quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Lavando a alma

sábado, 6 de novembro de 2010

Meu Deus, me dê a coragem

Clarice Lispector

"...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo."

Para mim?

Cleide Canton

Ao lado do laço
um bilhete carinhoso.
Para mim?
(indaguei como se houvesse ali
outra com o mesmo nome).

Na curiosa ansiedade
abri o singelo cartão de filetes dourados.
"Para a mulher que amo,
neste dia qualquer
que somente é especial
porque ela existe".

Quem haveria de ser o anônimo admirador?
Ousado e galante...
Claro que, ainda ofegante,
desfiz o buquê
e arranjei as rosas
num lindo vaso craquelê.

Fitei-as, emocionada,
preocupada
em descobrir o remetente.
Algum pretendente?
Nas últimas semanas
havia conhecido muita gente.
Alguém diferente?

Resolvi acalmar o coração em festa.
Quem sabe, mais tarde
ainda me faria seresta!
O relógio andou
devagar demais para o meu gosto.
Dia feio
naquela tarde de agosto.

O sol encolhido
de qualquer vestígio despido
não colaborava...
Se não fosse pelas rosas
talvez eu até me sentisse acinzentada,
mas quem é que não se aqueceria
com uma carinhosa "cantada"?

Caprichei no jantar.
Havia algo a se comemorar.
O toque da campainha
trouxe-me emoção diferente.
Ajeito os cabelos e abro a porta.
Recebo meu filho todo sorridente:
Suzette Rizzo

De mim, chove solidão...
molha o rosto, a blusa, o chão.
De mim, surgem idéias iludidas
e vez ou outra uma inspiração.
Minha alma passeia no sono
abraçada aos meus motivos,
são encontros que me impulsionam
a outros pontos não mais vivos.
De mim, chovem todas as águas;
De rios, de mar, misturadas
e chove um medo cor de piche
e chove dor da cor do sangue.
De mim, chove a vida que carrego
outras que carreguei,
chove o que causei ontem
e bem antes de hoje ser.
De mim, chove agua filtrada
que rega meus verdes,
limpa o solo em que piso,
e lava o palanque
onde vomito o que sinto.

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