quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Antípoda

gabriel m. ribeiro

A ponta do nó aponta
para o segredo do laço,
que no embaraço, me prende,
e me segura e se apropria,
une em dor, une em alegria...
e a ponta do nó que aperta,
oferta em segredo esta clausura,
impura como as fantasias medonhas,
das loucas bacanais sem-vergonhas
em que todos se enroscam como liames
nos fios dos novelos, no giro da roca
e infames fusos da vida tecelã,
ou nos pelos da glabra cortesã
empoada, perfumada e desiderata,
luxo de profissional extremada,
na densa prática consumada,
os escárnios e sonhos inatingíveis
como os vapores dos conhaques,
que desiluminam a escuridão,
de todas as noites esgotadas
em prostíbulos de fumaças grenás,
ou em sutil garçonière clandestina
ouvindo os érres arranhados de Piaf,
ou o viço dolente de Billie Holiday,
e tudo acabando em forte cefaléia,
maus-hálitos e sudoreses azedas,
além do ressonar embebedado,
e a pálida nudez desconhecida...
Um chuveiro gotejante,
um criado-mudo silencioso
uma agonizante taça vazia,
virgens camisinhas espalhadas,
restos frios da pizza de aliche,
e uma porta... talvez a saída!
Algum dinheiro deixado dobrado
ao pé do abajour apagado,
um último sintomático olhar
ao mudo e desnudo belo corpo,
além da sensação seca de vazio total...

- 12/01/2005 -

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