quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Anjos

Às enfermeiras Cristiane e Penha que me salvaram a vida quando de um choque anafiláctico causado pelo contraste de iôdo.

gabriel m. ribeiro

Na ponta da agulha
uma  veia inflada
iodo pressionado
o início.

Formigamento itinerante
cruéis suores
crescente torpor
náusea anônima
calor ardente
respirar inoperante
ar sufocante
a vida rarefeita.

Cores disformes, difusas
raciocínio falho, confuso
razão perdida
vozes nervosas
indagações recorrentes:
- “Qual é o seu nome?”
Ordens imperativas:
- “Respira, respira...”

O Grande salão branco desconhecido...
Sinistros armários retilíneos com nomes...
Brilho ofuscante de luz e névoa fatal...
Reluzente e compacto néon dos umbrais...

- a  PA  caiu
- o pulso está sumindo
- temos que trazê-lo de volta
- doutor, ele ainda respira
- jogue o corticóide no gelco
- faça um escalpe na mão direita
- fenergan e soro glicosado
- entuba com oxigênio...

Anjos revoavam a maca
Suas asas sopravam o ar
A brisa dos céus aproximou-se
O cheiro da vida invadiu a sala
O salão prateado apagou-se
Os olhos cegos procuravam a vida
E do negrume da escuridão ferrenha
Brilharam os olhos de Cristiane e Penha.

Pai,
Tu não me abandonaste

-  21/04/2000  -

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