quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Autópsia da morte

gabriel m. ribeiro

Estirada na mesa de aço
inox enferrujada,
manchada,
empenada e com rodas tortas,
o corpo da morte
jazia-se em sua vida!

A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é surpreendente!

Em seu cérebro
tomado por vida de distorções,
maus pensamentos, maledicências,
percebe-se
o ressurgir da inocência...
na nova vida encontrada na morte.

A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é reveladora!

O coração safenado, esclerosado,
com ventrículos entupidos
e aurículas saturadas,
enfartado, não pulsa,
descansa em curioso sono
de nova vida, rejuvenescedora.

A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é desconcertante!

As pernas fracas e claudicantes,
teimosas e recalcitrantes
arroxeadas pelas inúmeras varizes,
inertes não conduzem
tropeçam e tombam na morte
recompondo-se para nova caminhada.

A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é esclarecedora!

Os olhos opacos de cataratas
já não vêem o brilho da vida,
mas vêem o que as íris rasas,
as retinas fundas não assimilam
e distinguem a vida da vida,
da vida da vida da morte!

A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é desnecessária...

02/07/01

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