domingo, 9 de outubro de 2011

FEBRE

gabriel m. ribeiro
(Para: Delírio)


Febre queima, arde
Corpo, pele e cheiro
Goteja suor já é tarde
Sal na língua, brejeiro...
Dentes cravados na nuca
Mordida úmida lambida, cio
Contraem-se músculos e nervos
Espasmam-se paixões e delírios.


- 16/08/99 -

Farrapo



farrapo, caco, fragmento, resto, sobra e sucata
sentimento não-reciclável: o lixo existencial
trapo, fiapo, restolho, andrajo, molambo, rapa
carcaça não-consumível, acre luxo pestilencial.
gosto chumbo de bala e cor estanho no espelho
a morte crônica na vala neste estranho aparelho
o nó corpo despertencido, sem nunca ter sido.

- 16/10/03 -


gabriel m. ribeiro

EXODUS

EXODUS

 gabriel m. ribeiro


Pudera infantil poeta,
Mexer com fogo, quisera
Pensando não sair tosquiado.
Varar úmidos bosques escuros
Repletos de mistérios, lianas e cipós
Enredando livres e puros sentimentos
Ausentes dos momentos de físicos afagos
Carícias metafóricas, ardentes e reticentes...
Versos entrelaçados, emoções envolventes
Corações abertos, desenfreados estragos
Berço aconchego de palavras alimento
Dura paixão nua, cega,  cruel sem dó
Rima presente em verso sem futuro
Senha sutil, som amor camuflado
Ousar com a bela, sendo a  fera
Ousando submetê-la, quieta.



Pudera lúdico menestrel
Acreditar que sairia impune
Dos labirintos infinitos do amor
Das trovas cantadas nas madrugadas
Das esperanças unidas por belas rimas
Da camuflagem mística do pseudônimo
Do verbo didático adjetivando sentimento
Das cores sinônimas de aquarelas distintas.
Hálito de beijo - solidão em literatas tintas
Cão vira - lata nos pesadelos  tormentos
Conhecido ébrio dos bordeis anônimos
Gigolô das letras, em versos esgrima
Rompe o vitral - sonho à pedradas
Traz para si o alo sinistro da dor
Quebrando o frasco do ciúme
Monógamo, louco e infiel.



-  02/09/99  -