quinta-feira, 23 de junho de 2011

ERREI

 gabriel m. ribeiro

Por que errei tanto?

Errei nas escolha das palavras e contexto
Adjetivando-te  como aceita nossa  parceria
Sem consultar-te construi meu vasto texto
Sendo que como substantivo tu não me querias.

Errei na escolha do verbo para declarar
Meu amor pela tua alma e teu sorrir
Usei da primeira conjugação o verbo amar
Não te percebi na terceira conjugação: trair.

Por que errei tanto?

Errei na utilização da pessoa desta voz
Que julguei terna, doce, som de bouquet
Na opção eloquente elegi sempre o nós
Não percebendo ser ela unicamente: você.

Errei ao te mostrar no caminho o perigo
Das línguas alheias e das falas ferinas
Destaquei o risco no conselho amigo
Recebendo desdém como paga e propina.

Por que errei tanto?

Errei ao te oferecer um limpo apagador
Para corrigir os garranchos mal escritos
Mas não apagaste o bilhete, e tanto rancor
Ofereceste como essência do nosso conflito.

Errei ao te oferecer certo puro conforto
No confuso pretexto  que pude construir
Confundi-me querendo ser mar, nau ou porto
Não vendo que tu’ alma não queria dormir.

-  24/09/99  -

EROS INVERNO POENTE

 gabriel m. ribeiro

Quando o sol chiou como fritura entrando no mar,
no poente horizonte de uma praia selvagem,
ouvi o seu primeiro suspiro abafar meu ouvido
e seu primeiro orgasmo molhar minha mão.

Um verão nos aquecia...
ao longe, sob a árvore solitária,
nossos alazões testemunharam,
logo após a cavalgada densa,
encorpada e orquestral
que você realizou sobre meu ventre.

Comungávamos em carne,
sexos fundidos,
ungidos e entrelaçados em pelos!

Uma onda bem maior estourou em nossos corpos
justo quando eclodíamos em prazer pleno,
consagrado orgasmo...
arranhamos a areia com nossas unhas!

Um verão inesquecível...
e na sala uma lareira fazia nascer
a lembrança de um inverno incomparável...


-  28/08/98  -