sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Blue Jeans


gabriel m. ribeiro

Como surrei todos os meus jeans

nas tábuas dos tanques de lavar
com escova e fúria nas mãos,
fugas e muita água sanitária...
Queria e precisava desbotá-los,
gastá-los antes do próprio tempo,
queria logo envelhecê-los
na precocidade da minha agonia
queria com amor maltratá-los
como me sadomasoquiava todo dia...

Como idolatrei meus dermo-jeans
na carcaça em que me perambulei
cumpliciando as sobras das noites
puindo os fundilhos por onde andei...
Bainhas disformes desfiadas à mão,
agregavam as poeiras de fracassos,
marcavam nas areias os meus passos,
repousavam nas sandálias escorchadas
deixando ralos rastros desconcertados
vida, bússola e existência desmagnetizadas

Como vesti e despi todos os meus jeans
nas desinibidas barracas onde acampei,
camas e bordéis onde à luxúria brindei
e aos frios segundos de prazer paguei.
Nos bolsos solitários desta armadura
um maço de LS e um isqueiro monopol
um dulcora de hortelã, chaves e colomi,
pente flamengo, notas e moedas perdidas,
lenço com monograma que nunca entendi
e, na bainha, uma usada beata escondida.

Como vivi tanto com todos os meus jeans
momentos intensos em que me desvivi
desmorri, desfalei, desolhei, desesqueci...
Loucos e meros devaneios que nunca sonhei,
lúcidos e secos sonhos em que me sublimei,
vida fantástica que nunca vivi e vivenciei,
desbotada e esgarçada como os meus jeans,
arrastada nas lavas tórridas pelas asperezas
em erupção da minha pura insanidade incontida
vestida pelos jeans que agora abdiquei...

- 04 / 08 / 02 -

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