terça-feira, 9 de novembro de 2010

Alpendre

gabriel m. ribeiro

Saudades bailarinas em vapor fumegante
Preto  bico da chaleira delira em ebulição
Pardos grãos de café torrados neste instante
Viram pó, moídos agora, pelos calos da mão
Um cheiro alfazema e dengo da nêga Zefinha
O sal cristal do suor de Zito da Conceição
Temperos e mingaus da Sinhá Vó Belinha
Pitadas de pimenta,  coentro e manjericão.

Jabuticaba rasteira, pretinha, brejeira
Alvo lençol quarando ao sol de meio-dia
Relva macia bom p’ro beijo e brincadeira
A cadeira de balanço sacudindo vazia
Beijos roubados à prima namoradeira
O calor carinhoso do regaço da tia
Só, no alpendre, sujas botas, lama barreira
Uma cantiga mucama na voz de Maria.

Horizonte que chega em namoro com o poente
Na casa do sol escondendo  vales e outeiros
Crescendo nas copas dos jequitibás reluzentes
Bailado de besouros na luz trêmula dos candeeiros
A caldeira de sopa desmancha o jerimum e a baroa
O curau já exala canela seu verde milho cheiro
O torresmo crepita, doura, liberta sua salmoura
Janta-se, então, a saudade de um sonho campineiro.

-  15/06/99  -

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