sábado, 27 de novembro de 2010

Ir à Feira na Minha Infância

gabriel m. ribeiro

 
            Se havia uma coisa que me motivava ir com minha mãe até a feira de domingo, inicialmente na Pça Raul Guedes e depois na Ten Gil Guilherme, era a possibilidade de brincar com aquele instrumento com que se apanha grãos vendidos a granel.
            Era na maior barraca da feira. Seu comandante era um descendente de portugueses, o Seu Machado.
            Ele ficava junto à balança, bem no centro, de onde a tudo observava e comandava.
            Sorriso sempre no rosto, imediatamente ordenava aos seus ajudantes assim que uma das freguesas chegava à barraca, com voz forte:
            “Seu Antônio, capricha dois quilos do feijão uberabinha para a madame...”; “Seu João, dois e meio de batata para fritar...”, “Madame, o feijão  mulatinho está derretendo de tão fresco...” .  
             Assim, uma após outra, as mães, as avós e as empregadas que iam a feira eram atendidas.
             Mas o que mais me animava era a possibilidade de poder me servir dos grãos com aquela peça metálica, que gerava um som metálico e chiado ao ser enterrada no monte de arroz, e dependendo da porção de grãos que você procurava pegar, da força e profundidade que você a enterrava naqueles grossos sacos de lona verde, que alinhados à frente da barraca, compunham um colorido muro de cereais e batatas, o som se modificava.
            Depois era encher os sacos de papel pardo (não existia o saco plástico) e mais uma nova magia ocorria: a da balança! Onde pesos metálicos eram colocados e retirados com extrema rapidez nos dois pratos pelo ajudante, até que Seu Machado,  sentenciava: “um quilo e setecentas,  dois cruzeiros e cinqüenta.”
            Daí em frente, a liturgia continuava e íamos à barraca de frutas do Seu José, do verdureiro Seu Moura; da D. Izabel que vendia sabão em barra (e ovos escondidos); Jair das laranjas e tantos outros.. e assim renovávamos a cada domingo uma relação de confiança e fidelidade, singela, mas verdadeira entre aqueles “rústicos feirantes” e nossa comunidade.


In Gazeta da Urca nº 03


11/2007

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