segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Deusa da Noite

gabriel m. ribeiro

Púrpura cor,  amarrotado vestido
Transpirado,  desbotado, fedido
Jogado na seca costa de madeira
Da bamba, ocre  e única cadeira
Testemunho da dura comiseração
Dioturna antropofágica flagelação
Dignidade nas borbulhas dos goles
Sacrifício do corpo, o leite da prole
Vestidos caem pelo chão, pela cama
Pecado e amor, união, trama e drama.

Mãe e filha, duas pessoas, gente
Gente igual com vida diferente,
Mercadoras de falsos espasmos
Dor e gozo sofridos pleonasmos
Corpos, caça – níqueis  humanos,
No erro sendo sempre duro engano
Pessoas com centenas de cheiros,
Tabu, Glostora , Vick e Velho Barreiro
Flores sem cores, pétalas de plástico
Prólogo, tema, epitáfio: tudo drástico

Empilhando-se nuas nos quartos da vida
Mergulhando no sangue da própria ferida
Saltando ao mais fundo do fundo do poço
Transformando dias e noites em calabouço
Irmanando-se no fugidio beijo da loucura
Sorrindo , chorando, vivendo a desventura
Temendo o hoje, o que é passado e o futuro
A fome de ontem, a incerta doença, o apuro
Ferida em seu interior por  surras de açoite
Beija seus frios, ricos algozes: Rainha da Noite

-  06/01/99  -

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