sábado, 26 de novembro de 2011

A Festa de Lucy

gabriel m. ribeiro

Ladeira dos Asturras, nobre Santa Teresa
Paralelepípedos em constelação urbana
Salão em arte decô, fios e som sobre a mesa
Dois sofás nus, sem cristais, nem porcelana.
Os quadros impressionistas rompem a frieza
O som, sutil flash-back, embala e engana
Os vestidos negros modelam as tigresas
Jeans e blaisers rompem a formalidade tirana.
A porta sempre aberta reafirma a clareza
Da presença infalível, altiva e soberana
De companheiros, colegas, amigos com certeza
Numa festa pagã, em uma noite mundana.

O som rasgava a cúmplice penumbra
Ocultava dramas e misturava os perfumes
Escondia as idades, e a vaidade deslumbra
Permitindo um flerte ousado, olhares e ciúmes.
Angústias das almas sangrentas e solitárias
Oferecia o bailar ondulado de ancas empinadas
Sugeria a permissiva atitude voyeur arbitrária
No decote ousado, ou nas pernas cruzadas.
Estimulava o fútil consumo dos vinhos
O beber intenso, ritmado, febril da cerveja
O cigarro mentol, a colônia de silvestre pinho
A diamba e o batom nos lábios cor de cereja.

A festa começava dentro de cada um
As livres conversas partiam-se pelo meio
As músicas viajam em tempos incomuns
Os corpos suavam suas carências sem freio.
As pernas bailavam intencionalmente sensuais
Os beijos enguliam-se em sôfregas paixões
Os canapés coloriam a mesa dos comensais
O gelo, amálgama de uísque e intenções.
A solidão da noite crescia para alguns
A evidente noite de amor a outros excitava
Na porta do toillete simpatias, zum-zuns
A festa, dentro de todos, continuava...

-16/05/99-

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