terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dedo Mindinho

Gabriel M. Ribeiro

Eu queria ser o dedo mindinho
da minha mãe,
pois para ela
ele tudo contava,
das coisas certas que se fazia
e principalmente das coisas erradas.

O dedo mindinho não falhava,
quando alguém pegava escondido
grossa fatia de goiabada
ou tirava da compoteira
bombons, gomas jujubas, rebuçado
ou frutas cristalizadas.

O dedo mindinho enxergava
quem brincava com fogo escondido
e no corrimão da escada
descia de escorrega proibido
não se ensaboava direito no banho
e passava meleca embaixo da mesa.

O dedo mindinho dedurava
quem não ia missa no domingo
jogando bola de gude na praça
soltando cafifa, rodando pião
enquanto Lili decorava o sermão
e nos dizia repetindo: isto é pecado.

O dedo mindinho envelheceu
Não mais adivinhou nossas travessuras
Não mais censurou nossas brincadeiras
Não mais limitou nossas clausuras
Encontrou descanso de tanta bobageira
E foi embora conversar com Deus.

-  24/09/99  -

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