gabriel m. ribeiro
Estirada na mesa de aço
inox enferrujada,
manchada,
empenada e com rodas tortas,
o corpo da morte
jazia-se em sua vida!
A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é surpreendente!
Em seu cérebro
tomado por vida de distorções,
maus pensamentos, maledicências,
percebe-se
o ressurgir da inocência...
na nova vida encontrada na morte.
A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é reveladora!
O coração safenado, esclerosado,
com ventrículos entupidos
e aurículas saturadas,
enfartado, não pulsa,
descansa em curioso sono
de nova vida, rejuvenescedora.
A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é desconcertante!
As pernas fracas e claudicantes,
teimosas e recalcitrantes
arroxeadas pelas inúmeras varizes,
inertes não conduzem
tropeçam e tombam na morte
recompondo-se para nova caminhada.
A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é esclarecedora!
Os olhos opacos de cataratas
já não vêem o brilho da vida,
mas vêem o que as íris rasas,
as retinas fundas não assimilam
e distinguem a vida da vida,
da vida da vida da morte!
A morte, ao morrer, vive!
A autópsia da morte é desnecessária...
02/07/01
Nenhum comentário:
Postar um comentário